INTERNET: DEUS DOS PEQUENOS CRENTES
Aqui estou, de regresso aos bancos da Escola – se for a ver bem nunca de cá saí -, a assistir a aulas numa língua que me é quase estranha, deixando o pensamento correr nas direções que ele – e não eu – mais desejar.
Já quando estudei História era na Filosofia que me refugiava e chegou a vez de (me) pagar uma dívida antiga.
Graças às circunstâncias sinto-me agora cada vez mais pequeno, de uma pequenez indetetável – a única capaz de me encher de coragem para conceber desejos. Por exemplo, o desejo de realizar grandes coisas para este planeta que, por generosidade ou desatenção, me alberga e alimenta.
Quando somos convidados a pensar, todos os pensamentos se legitimam. O côncavo no fundo da garrafa e as suas diatribes convexas, os colares da cantora lírica que a banda desenhada nos legou, o belo, a estética, a graça e a sociedade crosta incapaz de chegar ao fundo de si e um punhado muito variado das ideias de deus, que não convergem, que não tornam homogéneo o ser humano, mas que chegam mesmo a separá-lo como se os deuses quisessem o pior para aqueles que o tomam como crença e farol orientador.
Nessas reflexões sou eu e o que penso. Ou o que penso para mim. Ou o que me torna capaz de refrear o que penso, de levá-lo a extremos, ou ainda a génese de inesperadas formas de trazer para pensar o que nunca teria antes concebido como exatidão ou necessidade.
Pensar é uma tarefa complexa. Há que aprendê-la. Nunca prendê-la. Como essa tal ideia dos deuses e de um deus, um Deus da comunicação como um dos filósofos aliás o concebeu: o Deus que é polo de todas as comunicações que passando por Ele serão D´Ele para todos.
É claro que um Deus assim parece terrivelmente tecnológico, mesmo que a comunicação seja no caso apenas um efeito de ar. O Emissor, o Receptor, o Meio. E do polo de onde a Comunicação se gera e parte se chega ao outro polo onde toda a Comunicação se faz essência, âmago, objeto, profundidade e nulidade. Um Deus assim do tipo Internet. Capaz de ser e unir, de não ser e afastar, de desligar-se com um simples bloqueio: não te quero mais entre os meus amigos, que afinal não o são, porque as pequenas manchas não fazem a imagem, nem as grandes coisas mudam o mundo mais do que as pequenas, mesmo a pensar que as pensamos radical e eficazmente.
Alexandre Honrado
Historiador